quinta-feira, 20 de dezembro de 2007

Cansado... (as vezes...)

Sinto-me cansado daquilo que faço, do que sinto, hoje, ontem e certamente amanha... As vezes procuramos tanto algo, que parece-nos por instantes que encontramos isso, fiz viagens, fiz desenhos e rascunhos na minha mente e fiz-me sentir amores, saudades, abraços fortes, e criei também um pouco de magia. O que fiz e o que faço hoje, vai-me sufocando e por momentos fico até sem ar, sem paciência, e sem coragem para pôr um fim sereno...
Mas apenas o que consigo fazer é ir suspirando e suspirando a espera que algo se faça sem mim. Sem o meu sentir. Quero ir com o vento... Não quero sentir, nem saber para onde me leva... Quero sentir-me sem destino, como sempre me senti. Tudo esta demasiado dentro das linhas, tudo esta perfeitamente desenhado como se tivesse estado sempre assim, desde a séculos.
Não escrevo mais... Não consigo por agora...

segunda-feira, 17 de dezembro de 2007

Na terra espelhada...



Aqui estou nesta terra fria, e assim continuo até despertar em mim algo que me faça ir para sempre... Desejo as vezes isso... Recordo-me de como era bom por vezes o silêncio, aquele que me envolvia todas as noites ao caminhar no chao escuro. Existia aquele regressar e aquele expecular de como foi, como é e como será... Hoje não sinto isso, e talvez por isso, existam momentos em que dou aquele suspiro bem fundo... Aquele suspiro apaziguador...

Björk - It's Oh So Quiet



Sshh, it's oh so quiet... As vezes eu preciso de um 'SSshhh' bem fundo para mim. Para pensar naquilo que faço e não faço (nesta altura da minha vida, é mais o que não faço).

Excelente... Talvez um dia...




Gostei da forma como o video decorre... Talvez um dia faça uma coisa assim, muda e espressiva. Digo talvez porque ainda existem pessoas, que me chamariam louco por fazer algo assim.

sábado, 15 de dezembro de 2007

O sexo e a Cidália...

O Adónis da Cinemateca

O rapaz tem uma cabeça grande, é largo de ombros e veste mal de cara. Preocupa-se com o físico descurando tudo o resto: a roupa, o cabelo, os sapatos. E sabemos como nos pés está a maior das virtudes masculinas: quem tiver gosto para os sapatos, tem gosto para o resto.
Não é de certeza por ter a cabeça grande que o rapaz não tem muitas namoradas. Mas a verdade é que nenhuma lhe faz companhia há muito tempo. E isso nota-se. Agarra-se a paixões platónicas como eu a bombocas - so que, felizmente para mim, eu ainda as como...
O rapaz trabalha no escritório dia e noite e gosta de mostrar trabalho feito ao chefe. É servil e passivo. Nunca levanta a voz e tenta agradar com pequenos mimos a quem manda nele. Cobiça o charme do patrão, mas ainda assim não percebe porque tem aquele homem tanto poder junto das mulheres. Quando alguma delas passa pelo escritório, ele esforça-se na lisonja, pensando secretamente que alguma um dia o há-de perferir. O chefe é escanzelado e bebe de mais. Ele não. É moderado, tem o dom da palavra e sabe tudo sobre os clássicos do cinema. Alguma há-de reparar nele. É a pensar nisso que ele se levanta todos os dias.
O emprego no escritório preenche-lhe a vida, mas infelizmente não lhe paga os DVD que gosta de comprar no estrangeiro. Quando as encomendas lhe chegam a casa, sente-se mais poderoso que o chefe. Pena não ter com quem partilhar os filmes. Vê-os de enfiada nas noites longas de fim-de-semana e ensaia palavras a que recorreria se estivesse acompanhado. Adjectivos e conhecimentos que atestam o seu saber na matéria...
O que o chefe do rapaz não sabe (a verdade é que mal se lembra do nome dele, quanto mais pensar que tem vida própria) é que o cabeça grande tem outra vida. Não diria que é o 'dark side' dele, mas uma existência paralela: às terças e quintas quando sai apressadinho antes das seis, não é para fazer voluntariado no hospital, mas para servir de modelo aos estudantes de Belas-Artes. Sim, o rapaz sai dali e vai a correr para a faculdade. Agora que penso melhor, é uma especie de voluntariado...
Ele chega antes das sete, tira a roupa, dobra-a cuidadosamente, põe os 'boxers' (que as tias lhe oferecem todos os anos em caixinhas de quatro) debaixo das calças, lava as mãos, e dá um jeito no cabelo. Esta parte ainda o baralha porque não sabe se devia ter um ar mais rebelde, ou se é preferível ir como vai: alinhado.
Antes da aula começar, faz sempre o seu chichi (não vá a bexiga tecê-las) e, na intimidade da casa de banho, passa sempre um toalhete pelas partes. Tem medo que o dia de trabalho no escritório se faça notar a distância, e ainda que ninguém o veja de muito perto, nunca se sabe quando uma aluna mais atrevida o aborda no fim da aula. Depois das partes serem refrescadas, volta a lavar as mãos e a observar o cabelo. Ele não acha nada que tenha a cabeça grande. Naquele momento - a entrada em cena com a toalha fina à cintura - sente-se muito mais importante que o chefe. Chega à sala onde todos o esperam, deixa cair a toalha sobre o banco, e conta sempre os alunos que ali estão. Gosta de perceber se há desistências ou reforços. Afinal, ele tem um belo corpo que muitos hão-de querer retratar.
Naquelas duas horas de silêncio, a vida passa-lhe toda a correr pela cabeça. E normalmente fantasia muito com as raparigas que ali estão, tendo o cuidado de pensar no Ferndando Dacosta quando sente que o entusiasmo pode traí-lo. Pensando no Dacosta, que é muito pouco sedutor, nunca fica malvisto.
Às quartas e sextas, quando volta ao escritório, o rapaz da cabeça grande leva um sorriso que só ele sabe de onde vem. O Adónis da Cinemateca gosta deste secretismo. Senta-se à secretária e repara que tem de comprar mais toalhetes.
Cada um refresca a vida como pode.
"Oh God, make me good, but not yet!"


in Notícias sábado, O sexo e a cidália.